quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Hipertrofia Estatal

Rodrigo Constantino

Com a divulgação dos resultados finais de 2005 das principais empresas, muita gente atentou para os elevados ganhos dos bancos, para variar. De fato, os bancos ganham bastante dinheiro no Brasil. Isso deve-se, basicamente, ao elevado nível de juros que o próprio governo paga nos seus títulos. Os juros altos, como o excelente retorno dos bancos, são conseqüência, não causa, dos principais problemas nacionais. As causas podem ser encontradas no gigantismo estatal, com enorme dívida pública e gastos explosivos.

Há uma grave falha na acusação de que o setor financeiro não é produtivo. Isso só é verdade quando limitamos o conceito de produção a bens materiais. Mas não custa lembrar que as economias desenvolvidas são fortemente dependentes do setor de serviços. E os bancos prestam um serviço fundamental para a economia de uma nação. Infelizmente, a principal função deles, de ligação entre poupadores e investidores, fica prejudicada no Brasil, posto que o maior devedor é o próprio governo, um péssimo investidor. É a fome insaciável de recursos do governo que limita a oferta de crédito no mercado, e puxa o preço do dinheiro para cima, elevando a taxa de juros. Isso para não falar que o maior banqueiro é o próprio Estado, que controla, através de estatais, cerca de 40% do setor.

Mas algo mais chama a atenção quando analisamos os dez maiores lucros divulgados até agora. A parcela das empresas estatais no total. A Petrobrás, pelo seu tamanho, distorce a análise. Mas o fato é que as estatais correspondem a 57% do total dos dez maiores lucros. Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, juntos, tiveram um lucro de R$ 30 bilhões em 2005. É muito dinheiro em mãos estatais. É muito recurso sendo mal utilizado, pela gestão inerentemente mais ineficiente do governo. É muito dinheiro podendo ser usado para fins políticos, “mensalão”, populismo, compra de votos etc.

Não há argumento lógico para justificar uma Petrobrás estatal. Nos Estados Unidos, maiores consumidores de petróleo do mundo, temos diversas empresas privadas competindo no livre mercado, e justamente por isso funciona melhor. Fosse a Petrobrás uma empresa privada, seria mais eficiente, mais lucrativa, já seria auto-suficiente há anos, e não ficaria gastando bilhões dos pagadores de impostos para investimentos suspeitos e populistas, financiamento de projetos “culturais” que beneficiam alguns amigos do rei etc.

O que choca nos lucros divulgados até agora não é a participação dos bancos no total. O que espanta mesmo é como o povo brasileiro é refém do Estado. Assusta ver quanto dos lucros vêm de estatais. E ainda tem comediante que acusa o “neoliberalismo” pelas nossas mazelas...

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