terça-feira, dezembro 12, 2006

O Estado é Meu!



Rodrigo Constantino

A reação dos artistas à tentativa do Estado em conceder incentivos fiscais para os investimentos no setor esportivo foi sintomática dos graves problemas nacionais. Um Estado inchado demais e interventor em demasia, com um modelo de social-democracia ultrapassado, gerou uma verdadeira “República de Pedintes”, como bem assinalou o economista Paulo Guedes. Cada grupo se organiza e luta pelo seu quinhão do Estado. A busca por esmolas estatais passou a ser prioritária, enquanto que a busca por eficiência e resultado passa a ser secundária.

Nossos artistas são conhecidos pelo amor que cultivam pelas enormes tetas estatais. A Petrobrás, por exemplo, vive cobrando mais pela gasolina dos pobres para poder bancar filmes que quase ninguém quer assistir, transferindo assim renda para alguns poucos artistas ricos. Em troca, estes bradam as maravilhas do socialismo e de um Estado bem ativo no fomento da “cultura”. Uma mão lava a outra, e o cão não morde a mão que o alimenta. Mas os socialistas são gananciosos também, e detestam a competição. Dividir as tetas estatais com a turma dos esportes é demais da conta! Como diz o ditado: “se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. Os 40% do PIB arrecadados em impostos já não estão sendo suficientes para tanta esmola...

Assim, artistas e desportistas ficaram em lados opostos, ambos disputando as mesmas tetas. O carimbo do Estado vale ouro no Brasil. A adesão do público, a aprovação do consumidor, essas coisas chatas de livre mercado ficam no segundo plano quando a canetada de um burocrata pode decidir o financiamento de milhões para determinado projeto “artístico”. Agradar o pessoal do governo e das estatais passa a ser o objetivo principal. Não é por acaso que exigir qualidade segundo os padrões dos consumidores não é muito adequado. Em nome da “cultura nacional”, até Tati Quebra-Barraco já viajou para a Europa com o dinheiro da viúva. Critério estranho esse de cultura.

Alguns artistas, já claramente sem ter como disfarçar a evidente luta aberta por simples interesses próprios, tentaram apelar para o “argumento” de que sem o financiamento adequado vários projetos culturais desejáveis seriam sepultados. A questão chave aqui é o termo “desejável”. Desejável para quem, exatamente? Se um projeto não se sustenta através do mercado, isso quer dizer que o público, os consumidores livremente decidindo, não julgam tão valioso assim o projeto. Se ninguém quer ver um filme, este filme não deve ser produzido. Simples assim. Ou se o produtor conseguir um mecenas que deseje financiar o projeto por conta própria, que o faça, mas sem tirar na marra o dinheiro do público, que é o que faz o governo. Sempre que estiver de frente para alguém que defende o uso do Estado para a promoção de algo “cultural”, alegando que o “mercado” não pode ser o parâmetro para tudo, saiba que está diante de um autoritário, que no fundo pretende apenas impor a sua preferência particular goela abaixo dos outros. Afinal de contas, o tal “mercado” nada mais é que o povo, podendo decidir por conta própria o que prefere.

Os artistas, revoltados com a possibilidade de competição pelos incentivos fiscais do governo, partiram para a defesa de seus privilégios. A mensagem ficou muito clara: um Estado grande, interventor e ativo no desenvolvimento cultural sim. Mas só para os artistas! De preferência, aqueles que usarão as verbas para defender justamente um Estado grande, interventor e ativo no desenvolvimento cultural. Os “dissidentes” merecem o ostracismo, e que se virem para conseguir financiamento no mercado!

Se o Estado realmente deseja ajudar tanto a cultura como o esporte nacional, há algo muito útil que ele pode de fato fazer: sair do caminho! Mas quem irá defender tal lógica? Não aqueles que respiram pelo tubo fornecido pelo próprio Estado.

3 comentários:

Anônimo disse...

ler este artigo logo apos ser incomodado pelo vox populi pra falar sobre a Vale, com um questionario direcionado para a area "social" parece coincidencia

Anônimo disse...

Se tem um país onde valem as teorias da escolha pública funcionam à risca, é o Brasil. Qualquer grupo, por mais insignificante que seja, não é nada sem exercer influência política.

Anônimo disse...

Paulo Guedes nunca leu Schumpeter pelo visto, precisa voltar para os bancos de escola