sexta-feira, novembro 18, 2011

Resistam, alemães!


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

A pressão internacional para que o Banco Central Europeu (BCE) abra suas comportas e imprima desenfreadamente papel-moeda para “salvar” o mundo tem se intensificado sobremaneira com o agravamento da crise. Todos voltam suas esperanças na direção daquele capaz de produzir dinheiro sem custo imediato. Esta sempre foi a saída mais fácil para governantes em tempos de crise. Mas os alemães, que conheceram de perto as agruras da hiperinflação, rejeitam esta “solução” mágica.

O problema é que o BCE não é mais o Bundesbank. Surge automaticamente a pergunta: até quando os alemães vão resistir às pressões do mundo todo? Até agora, o BCE tem adotado medidas heterodoxas, mas com algumas reservas. É verdade que ele aceitou como colaterais para empréstimos muitos ativos podres. Até mariola mordida deve ter em seu balanço! Só que sua resistência a bancar um resgate ilimitado tem colocado o mercado tenso. Isso puxa as taxas de juros dos países mais problemáticos para cima, impondo a necessidade urgente de reformas de austeridade e competitividade.

Em outras palavras, o “jogo duro” do BCE impõe, por meio dos mercados, a obrigação das reformas estruturais que a região tanto precisa. Somente isso fez com que Berlusconi e Papandreou caíssem, e tecnocratas assumissem o governo com a promessa de reformas. O povo vai às ruas reclamar das dolorosas, porém necessárias medidas. As cigarras se acostumaram com a “dolce vita”, e apenas a seriedade do BCE pode forçar os ajustes necessários. Mas a tentação pela fuga inflacionária não será fácil de ser evitada.

As autoridades francesas também querem isso, e só os alemães, bravamente, ainda resistem. Angela Merkel e seu ministro das Finanças afirmaram, uma vez mais, que a saída deve ser pela política, não pelo BCE. Em seu primeiro discurso como novo presidente do BCE, Mario Draghi não deu sinais de que vai ceder facilmente. Mas ainda é cedo para dizer. O BCE já fez importantes concessões, jogando fora sua “pureza” ortodoxa. Dar um passo extra pode ser questão de tempo. Algo como uma menina de família que já aceitou até entrar no motel “apenas para conversar”, prometendo que não vai até os limites. Está trocando carícias, mas jura que sexo não rola. É possível acreditar?

Para quem defende a ortodoxia dos bancos centrais e as reformas estruturais como única saída de longo prazo, resta torcer que sim. Sabemos que todas as promessas sérias se perdem depois que a conquista é efetivada. Se o BCE “abrir as pernas”, acabam-se as reformas de austeridade e a crise posterior será ainda pior. Portanto, só nos resta rezar: resistam, alemães!

PS: A cena da primeira batalha no começo do filme “Gladiador” ilustra bem a expectativa de muitos italianos hoje. Os romanos mandaram seu diplomata avisar que os germânicos deveriam se render, mas estes mandam de volta o diplomata, sem cabeça (Berlusconi degolado?). Um dos generais afirma: “As pessoas deveriam saber quando já foram conquistadas”. E depois, em uma batalha épica, os germânicos são massacrados. O que está em jogo hoje, na Europa, é justamente qual modelo vai predominar: o romano ou o germânico. Pelo bem das próximas gerações, espera-se que desta vez os romanos sejam derrotados. Mas é duro contar com isso, ainda mais quando se tem um Papa alemão e um presidente de banco central italiano...

Nenhum comentário: