segunda-feira, dezembro 10, 2012

Seis passos para felicidade

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP


Recentemente soube que alguns países querem endurecer ainda mais as leis antifumo: não pode fumar no carro, para fumar tem que ter uma carteirinha, quem nasceu a partir do ano 2000 não pode comprar tabaco. Esperamos, com a boca escancarada e cheia de dentes, a morte chegar. Mas, bem saudáveis. Hoje em dia, Raul Seixas vomitaria na plateia.
A "qualidade de vida" é uma das novas formas de puritanismo, sendo o feminismo uma outra (o feminismo é a nova repressão da sexualidade).
A felicidade e o bem-estar são as chaves da vida contemporânea. Vale tudo para ser feliz.
Qualquer discussão moral é pura afetação ética. Uma época dominada pela felicidade é uma época boba. Mas não estou sozinho nesta sensação: Aldous Huxley, escritor inglês, pensava a mesma coisa.
Quando olhamos para a história da ética, vemos que o utilitarismo inglês é o modo dominante da vida contemporânea. Para mim, pessoa um tanto desconfiada de quem passa a vida querendo ser feliz, isso tudo parece "limpinho" como um hospital. Jeremy Bentham (1748-1832), pai do utilitarismo, chegou mesmo a pensar num cálculo utilitário para otimizar a felicidade.
O principio utilitário afirma que o homem foge da dor e busca o prazer (o bem-estar). Logo, devemos fazer uma sociedade que vise produzir em larga escala a felicidade, o prazer e o bem-estar. E chegamos ao nosso mundo de gente que sonha em ficar com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar, mas com saúde. A vida e a sociedade dominadas pela busca do bem-estar parecem tornar o homem menos homem.
O cálculo utilitário tem seis passos: 1. Intensidade: o prazer dever ser o mais intenso possível. 2. Duração: o prazer deve durar o máximo de tempo possível. 3. Certeza: cuidado para não produzir um prazer que não é o que você deseja com aquele ato. 4. "Remoticidade" (remoteness): o prazer deve causar efeito imediato ou o mais rápido possível. 5. Fecundidade: o prazer A deve gerar o prazer A1, o A2 e assim por diante. 6. Pureza: cuidado para não gerar desprazer ao invés de prazer.
Será que você já não põe isso mais ou menos em prática do seu dia a dia? Mas, dirão alguns, Bentham era um controlador, porque ele sempre pensava em termos de um centro (expert) controlando a periferia (as pessoas comuns).
Bentham ficará conhecido como o utilitarista antidemocrático, sendo John Stuart Mill (1806-1873) o utilitarista democrático. De acordo com este, maior representante da segunda geração de utilitaristas, a sociedade (os indivíduos) deve livremente buscar esse prazer.
Mas o que percebemos é que, ainda que Mill falasse muito em liberdade e contra o abuso de poder (cara simpático para a moçada que gosta de falar coisa bonitinha, tipo Obama), não adianta acusar o "centro do poder" de controlador, porque são as próprias pessoas que querem os seis passos para a felicidade de Bentham.
Isso cria o efeito de esmagamento típico do puritanismo de massa em que vivemos: saúde e felicidade. Fizéssemos um plebiscito, quase todo mundo escolheria uma gaiola feliz.
"Comunidade, identidade, estabilidade." O bem é sempre para todos, a identidade é o que nos une, a vida deve ser estável. Slogan que venderia bem no mundo para o qual seguimos a passos largos com esse utilitarismo social em que vivemos, com um controle cada vez maior dos gestos, do pensamento e dos hábitos em nome da "comunidade, identidade, estabilidade".
Esse era o slogan do mundo perfeito que Huxley criticou em seu "Admirável Mundo Novo" (1932), mas podia ser o de qualquer um dos proponentes bonitinhos do controle político da vida em nome do bem.
Louis Pojman, professor de filosofia da Academia Militar de West Point (EUA), chama isso de "tragédia da liberdade".
Toda liberdade pressupõe riscos, e toda sociedade pautada pela felicidade social não suporta a liberdade. Estamos caminhando a passos largos para uma dessas.
Toda a cultura intelectual está infestada de amor à felicidade social e de ódio ao indivíduo. O pesadelo totalitário não passou. Agora ele vem sob o disfarce da opinião pública e da vontade coletiva.

6 comentários:

Míriam Martinho disse...

O feminismo - que no singular só existe na cabeça dos ignorantes - é a repressão da sexualidade dos Pondé da vida, um fóssil rodriguiano que um cientista maluco ressuscitou com outros do período jurássico. Esse cientista criou então um parque dos dinossauros, mas falhou na segurança. Daí que alguns bichos escaparam e acham que podem novamente dominar o planeta..kkkk

Agora que o olavo de carvalho deixou as olavettes órfãs, o pessoal tem o Pondé e sua revolução conservadora: o mundo é uma josta, o ser humano é uma josta, e se você não concorda com isso é porque é hipócrita e canalha. Os velociraptors adoram.

mvsmotta disse...

Não precisa muito viram? Aparece logo uma para fornecer a prova de que o Pondé está certo.

Anônimo disse...

Sra Miriam
Vivemos numa democracia e a liberdade de expressão é uma de suas forças.
O contraditório é uma da características deste espaço. A prova esta na publicação do seu texto, que aliás é muito, mas muito fraquinho.
Respeitosamente
Márcio Astrachan

Anônimo disse...

Li duas vezes o comentário da Míriam e não achei um pingo de conteúdo que agregasse conhecimento ou valesse a pena ser debatido. Parece até que ela queria na verdade comentar algum artigo de paleontologia, mas na hora de postar ela se enganou de artigo e apareceu aqui.

Como o Constantino disse em outro artigo, é mais fácil atacar as pessoas que as ideias. Em minha opinião, para atacar ideias é preciso ter alguma para causar um confronto.

Diogo R Santos disse...

É preocupante a situação: a "repressão" veio em menos de uma hora e meia

Thiago disse...

Discordando dos 'pondetes' que partiram pra cima da comentarista Miriam Martinho, digo que ela lançou no mínimo uma observação que vcs não podem considerar ad hominem - o uso equivocado/simplista da expressão 'feminismo'. Ademais, os 'pondetes' parecem carecer de senso de humor.